Astúcia
e ousadia não são características comuns de arquitetos quando o assunto é
planejamento e organização da carreira. Embora esta dificuldade não seja
exclusividade da profissão, suspeito que a diversidade de opções que a atividade
propicia seja o maior problema. Assim, não pretendo aqui apresentar um manual
de como proceder na carreira, pretendo somente relatar impressões pessoais e
situações comuns que frequentemente podem ser observadas em colegas e
estudantes acerca desta questão.
Poucas
coisas são tão incômodas neste mundo como planejar uma carreira profissional.
Para que o plano seja bom de verdade, é necessário considerar o maior número de
incertezas e as possibilidades de algo sair errado. Desta forma, quando se fala
em planejamento de carreira, o sonho da infância é o que permeia a maioria dos
aspirantes a alguma profissão e, portanto, muitos preferem acreditar que algo
inesperado e positivo aconteça na sua trajetória profissional que o alavanque
para o sucesso. Nem sempre estes acontecimentos estão diretamente vinculados a
ações intencionais e, podem inclusive serem obras do acaso. Uma aprovação em um
concurso público ou em um processo seletivo de uma grande empresa, ou até a
sorte de alguém endinheirado de seu círculo social se empolgar com seu talento
e resolver investir em você. Esta última é uma possibilidade muito remota, dada
à falta de endinheirados em nosso meio, principalmente, aqueles dispostos a
investir em nós.
Então,
como planejar algo entremeado de tantas variáveis quanto uma carreira
profissional? Em meio ao turbilhão de informações, emoções e relacionamentos as
quais estamos diariamente sujeitos dentro de um curso superior, nos
questionamos diariamente se estamos de fato no caminho certo. Esta pergunta nos
persegue mesmo após anos de atuação.
Assim,
como qualquer projeto de arquitetura, o planejamento da carreira serve para
minimizar as incertezas inerentes de um determinado processo e não excluí-las
definitivamente. Até com o melhor e mais detalhado projeto, jamais devemos nos
iludir que teremos controle absoluto de todas as variáveis envolvidas, mas
certamente, é possível fazer previsões precisas e determinar como as ações se
reverterão em benefícios.
A
participação em cursos e eventos ligados a sua área de interesse podem até
satisfazer momentaneamente, mas o que realmente o mantêm ativo e atualizado é a
combinação entre sua pró atividade com sua rede de relacionamentos. Aprender a
detectar necessidades é talvez o passo mais importante para se evoluir em uma profissão,
principalmente quando se trata de assuntos relativos à sua identidade pessoal,
quando algo de fato o toca sensivelmente. Desta forma, a energia produtiva pode
ser direcionada para aquilo que estamos realmente dispostos, comprometidos e
abertos a resolver.
O
planejamento da carreira, contudo, está relacionado aos aspectos financeiro,
familiar, social e cultural, de modo que em todas as áreas os objetivos devem
ser traçados a priori e as ações devem ser tomadas nos períodos previstos
inicialmente, mesmo que para isto seja necessário abdicar de algo. Abrir mão de
alguns desejos na hora certa é sinal de maturidade e respeito com o destino.
Repetir diariamente em frente ao espelho como um mantra, “Eu sou o máximo”,“Eu
posso tudo”, “Yes, we can” como muitos manuais de auto ajuda recomendam, fará
um bem danado para o ego, mas não vai ajudar efetivamente no seu crescimento. Como
diz um grande amigo meu: “entre o fracasso e o sucesso existe apenas mais uma
tentativa”.
Em
parte, o incômodo deste assunto reside em nossa inabilidade para detectar
gostos pessoais ou lidar com imprevistos. Nem sempre temos a noção exata de
quanto tempo e recursos estamos dispostos a investir em um plano, de forma que
nossas limitações físicas e emocionais, nossas ansiedades e desejos são muito
difíceis de serem detectadas, uma vez que estão constantemente em mutação.
Embora todos os percalços e mudanças acidentais de rumo sejam compreensíveis do
ponto de vista pessoal, nosso maior empecilho é sem dúvida o medo da
frustração, o qual é muito semelhante ao medo do papel em branco ao iniciar
algum projeto. Este medo é persistente, apenas aprendemos a lidar com ele de
forma mais amena com o passar do tempo. A sensibilidade de absorver, aceitar e se
adaptar as mudanças naturais em relação às situações que não temos domínio,
como as oscilações do mercado ou imprevistos pessoais, por exemplo, é louvável,
mas aceitar que nossos próprios medos e angústias dominem nossos projetos é
inadmissível.
Érico Masiero, 24 Março 2013
 

