quarta-feira, 19 de novembro de 2014

O dia 08 de Novembro passou e o dia mundial do urbanismo quase não foi lembrado. Mesmo a data tendo sido instituída em 1949 para celebrar a consciência com o nosso ambiente e a integração entre os seres em um espaço comum, pouquíssimas manifestações ocorreram em nosso país, principalmente por parte de profissionais, estudantes e demais envolvidos com a ingrata tarefa de organizar o espaço das cidades.  
Poucos e raros são os urbanistas de ofício e considerando o atual estado caótico de nossas cidades, principalmente das capitais nacionais, tenho minhas dúvidas se ao cursar uma faculdade de arquitetura podemos também usar profissionalmente o título de urbanista. Eu, pelo menos, uso-o com muito zelo.
O ofício do urbanismo exige do profissional, além do domínio das técnicas de projeto e execução de obras, muita vontade para articular iniciativas comunitárias, dom para o empreendedorismo, um consistente conhecimento da burocracia dos órgãos públicos, uma pitada de talento político e, principalmente, um cardápio de utopias na cabeça. Somente aquele que consegue enxergar e expressar o futuro com clareza e sem medo de parecer ridículo pode ser considerado urbanista.
Digo que tenho minhas dúvidas se nós, meros, quaisquer e mortais arquitetos, podemos também receber o título de urbanista, tendo em vista que tais aspectos citados acima nem mesmo fazem parte das grades curriculares das faculdades. Muito do que é ensinado, até nas melhores escolas brasileiras, não se trata exatamente de urbanismo, muito menos de planejamento urbano e sim de desenho urbano ou teoria e história do urbanismo, coisas bem diferentes!


Fotos: Érico Masiero
Medellin, São Carlos, Dublin, Colon, Búzios e Marinilla
Atualmente 54% da população mundial vive em cidades e, segundo Alexandros Washburn, urbanista norte americano, não há no mundo um profissional que toma sozinho tantas decisões importantes que afetam tantas pessoas. O número de profissionais urbanistas é muito menor em relação à quantidade de questões que devem ser abordadas em uma cidade para garantir a mínima qualidade de vida aos habitantes. Tal desproporção entre o pequeno número de profissionais frente as inúmeras decisões, não ocorre somente no Brasil.
Aí o leitor me pergunta: Se há tanto para fazer, por que há tão poucos profissionais atuando no mercado? A principal questão é que o exercício profissional do urbanismo só faz sentido em sociedades participativas, comprometidas com a qualidade de vida, engajadas politicamente e ricas em relacionamentos humanos, de forma que se torna viável para o urbanista dialogar e propor transformações no espaço urbano. Qualquer ação de intervenção espacial exige ao menos um interlocutor e nós, como sociedade, temos sido apenas expectadores de iniciativas empresariais ou governamentais, sem mesmo nos perguntarmos aonde nós, cidadãos podemos contribuir para melhorar a qualidade de nosso espaço. Não se pratica urbanismo unilateralmente!

A qualidade do espaço urbano nasce principalmente do afeto e do cuidado das pessoas com o lugar, sendo que tais comportamentos estimulam a formação de redes as quais agem para transformar um lugar em belo e significativo para a coletividade. Tristes são os lugares aonde não se permite considerar as relações humanas e a beleza como elementos essenciais para a formação do espaço.

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