O dia 08
de Novembro passou e o dia mundial do urbanismo quase não foi lembrado. Mesmo a
data tendo sido instituída em 1949 para celebrar a consciência com o nosso
ambiente e a integração entre os seres em um espaço comum, pouquíssimas
manifestações ocorreram em nosso país, principalmente por parte de
profissionais, estudantes e demais envolvidos com a ingrata tarefa de
organizar o espaço das cidades.
Poucos e
raros são os urbanistas de ofício e considerando o atual estado caótico de
nossas cidades, principalmente das capitais nacionais, tenho minhas dúvidas se
ao cursar uma faculdade de arquitetura podemos também usar profissionalmente o
título de urbanista. Eu, pelo menos, uso-o com muito zelo.
O ofício
do urbanismo exige do profissional, além do domínio das técnicas de projeto e
execução de obras, muita vontade para articular iniciativas comunitárias, dom
para o empreendedorismo, um consistente conhecimento da burocracia dos órgãos
públicos, uma pitada de talento político e, principalmente, um cardápio de
utopias na cabeça. Somente aquele que consegue enxergar e expressar o futuro
com clareza e sem medo de parecer ridículo pode ser considerado urbanista.
Digo que
tenho minhas dúvidas se nós, meros, quaisquer e mortais arquitetos, podemos
também receber o título de urbanista, tendo em vista que tais aspectos citados
acima nem mesmo fazem parte das grades curriculares das faculdades. Muito do
que é ensinado, até nas melhores escolas brasileiras, não se trata exatamente
de urbanismo, muito menos de planejamento urbano e sim de desenho urbano ou
teoria e história do urbanismo, coisas bem diferentes!
Fotos: Érico Masiero Medellin, São Carlos, Dublin, Colon, Búzios e Marinilla |
Atualmente
54% da população mundial vive em cidades e, segundo Alexandros Washburn,
urbanista norte americano, não há no mundo um profissional que toma sozinho
tantas decisões importantes que afetam tantas pessoas. O número de
profissionais urbanistas é muito menor em relação à quantidade de questões que
devem ser abordadas em uma cidade para garantir a mínima qualidade de vida aos
habitantes. Tal desproporção entre o pequeno número de profissionais frente as inúmeras
decisões, não ocorre somente no Brasil.
Aí o
leitor me pergunta: Se há tanto para fazer, por que há tão poucos profissionais atuando
no mercado? A principal questão é que o exercício profissional do urbanismo só
faz sentido em sociedades participativas, comprometidas com a qualidade de
vida, engajadas politicamente e ricas em relacionamentos humanos, de forma
que se torna viável para o urbanista dialogar e propor transformações no espaço
urbano. Qualquer ação de intervenção espacial exige ao menos um interlocutor e
nós, como sociedade, temos sido apenas expectadores de iniciativas empresariais
ou governamentais, sem mesmo nos perguntarmos aonde nós, cidadãos podemos
contribuir para melhorar a qualidade de nosso espaço. Não se pratica urbanismo
unilateralmente!
A qualidade
do espaço urbano nasce principalmente do afeto e do cuidado das pessoas com o
lugar, sendo que tais comportamentos estimulam a formação de redes as quais agem
para transformar um lugar em belo e significativo para a coletividade. Tristes são os lugares aonde não se permite considerar as relações humanas e a beleza como
elementos essenciais para a formação do espaço.
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