Os termos
“Arquitetura Sustentável”, “Arquitetura Verde” ou “Arquitetura Ecologicamente
Correta”, carregam pretensões acima do que realmente a arquitetura como objeto
pode oferecer aos seres humanos.
A ideia
de se criar atestados de eficiência energética para edifícios surgiu após a
detecção de que 40% da energia produzida mundialmente é consumida por
edifícios, tanto na construção, quanto na operação e na manutenção. Apesar
disso, recentemente tem sido notado que em diversos casos, as contas de consumo
de energia elétrica e água, por exemplo, de edifícios que receberam
recentemente alguma certificação ambiental superam as contas de edifícios mais
antigos, construídos sem a pretensão de parecerem ecologicamente correto.
Depois de
alguns anos de funcionamento das instituições especializadas em
certificação ambiental e dos selos verdes específicos para edifícios, tais
como LEED ¹ (Leadership in Energy and Environmental Design), ou o Processo AQUA
(Alta Qualidade Ambiental do Empreendimento) ², adaptação brasileira do selo
francês “Démarche HQE”, foram detectadas muitas decepções por parte de
investidores, usuários e órgãos governamentais. Desta forma, nem sempre o fato
dos projetos de edificações seguirem os preceitos estabelecidos pelas
instituições de referência no assunto garante um nível de performance acima
daqueles projetados a partir de preceitos mais tradicionais. Justamente pelo
fato do termo “sustentabilidade” ainda ser controverso, gerar muitas dúvidas e,
sobretudo, ser usado com objetivos mercadológicos.
De acordo
com o LEED, o nível da certificação é definido em uma escala de 0 a 110 pontos,
de modo que, a pontuação mínima é de 40 pontos. O empreendimento é avaliado sob
sete dimensões: (1) pelos impactos provocados no
ecossistema, (2) pela eficiência do uso da água, (3) pela
eficiência no consumo de energia e emissão de gases na
atmosfera, (4) pela racionalidade no consumo de materiais e
recursos, (5) pela qualidade ambiental interna e (6) as
inovações nos processos construtivos e operacionais utilizados. As intenções
parecem ótimas e certamente contribuem para agregar fatores qualitativos
na concepção de espaços, mas os pífios resultados de eficiência energética em
alguns edifícios certificados têm decepcionado. O que de fato acontece ?
Entre as
várias razões apontadas por Michael Mehaffy & Nikos Salingaros ³, (veja o
link abaixo), uma, está relacionada ao comportamento do usuário. Trabalhar e
viver em um edifício considerado “verde” provoca invariavelmente um
comportamento displicente nos usuários, como, deixar as luzes acesas ou
computadores ligados sem necessidade. Viver em edifícios projetados para ter
alta performance energética não deveria nos dar o direito de abusar
dos sistemas elétricos ou de condicionamento de ar.
O fato de
vivermos em cidades hostis em relação às condições ambientais, de poluição e de
segurança, faz com que tenhamos edifícios cada vez mais isolados e fechados
para o ambiente urbano. Condomínios com muros altos e envoltos por peles de
vidro se tornam desejáveis pelo mercado imobiliário e assim, apenas alguns
fatores externos ditam as regras de concepção espacial. Menospreza-se,
portanto, as condições de implantação, de insolação, por exemplo, já que as
“inovadoras” tecnologias construtivas disponíveis atualmente se propõem a
resolver qualquer limitação de projeto.
De certa
forma, aprendemos a confiar demasiadamente em sistemas e instituições que se
propõem a resolver nossos problemas, mas não estamos atentos ao nosso
próprio comportamento. Adoramos reivindicar melhorias de governos, mas não nos
sujeitamos a sequer dedicar um tempinho de nossa vida para participar de uma
reunião de condomínio. Passamos horas discutindo os absurdos que ocorrem
do outro lado do mundo, mas não investimos uma horinha para tentar melhorar o
que está ao nosso lado.
Arquitetura
como objeto carrega algo além de custo, beleza, eficiência e
funcionalidade, ela é, sobretudo, uma maneira de expressar desejos,
delimitar territórios e traduzir comportamentos humanos em espaços. Como há uma
dose bastante grande de subjetividade na avaliação da qualidade do objeto
arquitetônico, os atestados de eficiência energética não se tornam suficientes
para classificá-la, simplesmente pelo fato de não serem poderosos o suficiente para alterar
comportamentos humanos.
Referências
3. http://www.archdaily.com/396263/why-green-architecture-hardly-ever-deserves-the-name/ Why Green Architecture Hardly Ever
Deserves the Name
0 comentários:
Postar um comentário