Os cursos de mestrados, doutorados e demais
pós-graduações não têm sido suficientes para formar o número necessário de
professores e em grau de qualidade compatível com a demanda dos próximos anos.
A CAPES, 2013 (Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior)
(1), órgão federal ligado ao Ministério da Educação, destinou no ano de 2012,
692 bolsas de estudo para a formação de mestres e doutores no país nas áreas de
arquitetura e urbanismo, no entanto, nem todos os candidatos se tornarão pesquisadores
ou docentes em instituições que garantam tanto a continuidade dos estudos como
o desenvolvimento e a transferência do conhecimento. Muitos candidatos apenas
cumprem as exigências das universidades e dos órgãos de fomento à pesquisa de
forma que nem sempre as monografias, as dissertações e as teses se revertem em
benefícios significativos para a sociedade.
Pode ser verificado respectivamente pelas Figuras 1
e 2, que segundo a CAPES, 2013 o ritmo de formação de docentes em arquitetura
está aquém do necessário para atender a demanda de forte tendência de criação
de vagas nos cursos de graduação em arquitetura e urbanismo, de acordo com
estimativas da ABEA, 2013.
Figura 1, tendência de crescimento do número de bolsas
destinadas
à área de
arquitetura e urbanismo
Fonte: CAPES,
2013
Figura 1, tendência de crescimento estimado da criação
de vagas em
cursos de graduação em arquitetura e
urbanismo
Fonte: ABEA, 2013
Ressalva-se que, apesar de existir outras fontes de
financiamento para a formação de docentes como as agências estaduais de fomento
e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, CNPq, a
relação entre vagas e docentes continua sendo preocupante pelo fato de nem
todos os mestres e doutores partirem para a atuação no sistema de
ensino.
A CAPES, 2013 também tem relatado dificuldades para
selecionar candidatos suficientes para preencher todas as vagas disponíveis do
Programa Ciência Sem Fronteiras (2), devido à baixa qualificação dos
profissionais graduados e ao conhecimento insuficiente de outro idioma dos
candidatos. Tanto que o Ministério da Educação lançou recentemente o programa
Inglês Sem Fronteiras, curso de idioma disponibilizado on line, para tentar
melhorar o alcance do nível de proficiência exigido nos exames linguísticos
para o ingresso nas Universidades Anglófonas e minimizar a sobra de bolsas de
estudo. Mesmo sabendo de todas as dificuldades encontradas pelo principal órgão
de fomento a formação de profissionais de alto nível do Brasil, constata-se que
48% dos arquitetos julgam ter bons conhecimentos de inglês segundo o Censo do
CAU, no entanto, poucos se aventuram pela academia ou outras áreas
especializadas, embora haja oferta de recursos.
É certo que o CSF prioriza as áreas exatas e
aqueles com maior identificação com as áreas de humanas têm chances reduzidas
para obtenção desta fonte de recurso. Assim, das 22.229 bolsas de estudos
distribuídas em todos os níveis até junho de 2013, 8.734 foram destinadas às
áreas de Engenharia e Demais Áreas Tecnológicas. Arquitetos até levariam
vantagem na concorrência pelas bolsas de pós-graduação por terem formação
abrangente e conseguirem transitar bem entre as áreas tecnológicas, entre as
quais são consideradas prioritárias para o governo, mas não é o que tem
acontecido. Somente 135 bolsas foram destinadas à área de Novas Tecnologias de
Engenharia Construtiva, por exemplo, onde alguns arquitetos teriam grandes
chances de se inserirem, somente 6 bolsas foram destinadas nesta categoria para
formação de candidatos ao Doutorado Pleno no exterior desde o início do
programa em 2011.
A pesquisa do CAU relata ainda que, 87% dos
arquitetos estão satisfeitos com a formação recebida pela instituição de ensino
onde concluíram a formação em Arquitetura e Urbanismo. No entanto, fica
evidente que a falta de acesso de muitos profissionais, interessados em
melhorar a sua formação acadêmica, às linhas de financiamento disponíveis pelo
governo se deve ou por falta de iniciativa dos próprios candidatos, ou por
desconhecimento das oportunidades, ou principalmente por falta de preparo
acadêmico.
No caminho oposto às dificuldades enfrentadas na
formação de recursos humanos qualificados no país, Maragno, (2012) (3) retrata
o vertiginoso crescimento do número de escolas de arquitetura no Brasil. São
quase 300 cursos com uma distribuição desigual pelo país, sendo que a maioria
está concentrada na região Sudeste. Portanto, a principal questão é: como
preencher as novas vagas para docentes nestes novos cursos, se o nosso sistema
de formação de profissionais de alto nível mal consegue suprir a demanda para
os cursos existentes?
Diante destes dados surgem duas notícias, uma boa e
outra ruim. A boa é que os arquitetos nunca foram tão solicitados quanto
atualmente para participar das questões cruciais no desenvolvimento do país.
Questões de infraestrutura, habitação, meio ambiente, aplicação de novas
tecnologias construtivas, aumento da eficiência energética dos edifícios ou
preservação do patrimônio cultural e planejamento urbano são temas altamente
relevantes e áreas que podem absorver grande número de profissionais, desde que
estes estejam preparados para desempenhar tais tarefas. A notícia ruim é que
com pouca qualificação, os profissionais terão poucas oportunidades e acesso
restrito para participar de serviços especializados. Assim, fica esclarecido o
motivo pelo qual no Censo do CAU, é apresentado que 50% dos profissionais
atribuem à valorização profissional pela sociedade como o maior obstáculo para
o exercício profissional, ou seja, há excesso de profissionais desempenhando
funções que exigem pouca qualificação. O acesso ao mercado continuará restrito
caso não haja mudança de atitude por parte de profissionais, instituições de
ensino, principalmente de algumas privadas e órgãos do governo e passem a focar
no objetivo de formar lideranças e pessoas seguras para tomar decisões
importantes e de interesse nacional.
Desafios e Recomendações
Enquanto a necessidade das décadas de 90 e 2000 era
expandir o sistema de ensino superior e garantir um acesso mais efetivo às camadas
menos favorecidas economicamente, agora o desafio para os próximos anos é, sem
dúvida, garantir a qualidade do sistema educacional como um todo para que os
profissionais tenham acesso às oportunidades de trabalho de alta relevância.
Apesar do arquiteto e urbanista ter caráter
generalista, o profissional não deve se limitar a tarefas genéricas e
superficiais. É necessário que os profissionais consigam transitar com
desenvoltura entre tarefas que exijam diversos níveis de conhecimento tanto
prático como teórico, de acordo com as solicitações atuais e com as novas
oportunidades.
Por se tratar também de uma profissão que depende
da prática efetiva e do exercício diário do oficio, a formação em arquitetura
deve investir um esforço mais efetivo em equilibrar os aspectos teóricos e
práticos na formação. Apesar de algumas escolas considerarem o estágio como
horas complementares na formação, em muitos casos, esta experiência não atribui
qualquer diferencial no curriculum e nem sempre contribui para a inserção do
profissional no mercado. No entanto, as escolas se baseiam em geral em
avaliações teóricas e, muitas vezes, subjetivas para habilitar um profissional.
O período do estágio, da forma como está organizado, é mal supervisionado, e
pouco avaliado por instituições e profissionais experientes, salvo em algumas
exceções. Não encaminha o estudante para a especialização, nem contribui para
que este tenha acesso a novas oportunidades de trabalho. A falta de
reconhecimento e da formalização da experiência prática representam entraves
que limitam o acesso dos profissionais ao mercado de trabalho em geral.
Assim, nosso sistema educacional abre poucas
possibilidades de desenvolvimento profissional e desperta pouco interesse no
aluno para a continuidade dos estudos. Atualmente, as formações específicas são
concentradas nos cursos de pós graduação, os quais ainda possuem grandes
entraves para o acesso igualitário dos graduados ao sistema público
educacional. As exigências que as universidades do exterior fazem aos candidatos
pelo conhecimento sobre o assunto a ser abordado no intercâmbio do CSF e do
idioma do país em que se pretende estudar, são apenas indicadores que estamos
muito aquém do nível de estudo praticado internacionalmente. Somente os
candidatos vindos de universidades públicas federais e estaduais conseguem
atingir o nível exigido para a realização do intercâmbio, os quais são maioria
absoluta nas submissões de propostas para o CSF.
Portanto, o alto número de profissionais que se
dedicam a tarefas pouco especializadas se deve ao fato do sistema educacional
contar com estrutura ainda precária para a formação de mão obra em nível de
graduação e não incentivar a continuidade dos estudos. Assim, forma-se um
grande contingente de profissionais que concorrem entre si por trabalhos pouco
especializados e que nem sempre contribuem para o desenvolvimento das áreas
consideradas prioritárias no país. As insatisfações recorrentes dos
profissionais são representadas respectivamente pelas parcelas que consideram a
falta de valorização profissional pela sociedade, a má remuneração e à falta de
acesso ao mercado. Os números divulgados pelo Censo do CAU explicam que a má
remuneração decorre da alta concorrência entre profissionais com baixo índice
de especialização e, portanto, com pouco acesso a oportunidades de trabalho.
Para que o acesso ao mercado de trabalho seja
otimizado, sugere-se que os órgãos governamentais responsáveis pelo fomento à
qualificação de recursos humanos considerem a formatação de novos meios de
aparelhamento das instituições públicas e privadas brasileiras no sentido de se
oferecer vagas para o desenvolvimento profissional no estágio pré formatura em
arquitetura e urbanismo. Neste sentido, é necessário que se criem programas de
extensão universitária e desenvolvimento profissional específicos em parceria
com as instituições que comprovem competência perante a sociedade em áreas do
conhecimento prioritárias para o país. Há que se criar um pacto entre as
instituições que estejam de fato comprometidas com a transferência de
conhecimento e com a formação de lideranças.
Leia também no portal Vitruvius
notas
NE
Leia a primeira parte deste artigo: MASIERO, Érico. Censo do CAU e os desafios
na formação em Arquitetura e Urbanismo (parte1). Drops, São Paulo, 14.071,
Vitruvius, ago 2013 <http://www.vitruvius.com.br/revistas/
1
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CAPES. Coordenadoria de Coordenadoria de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Dados Estatísticos. 2013.
Disponível em http://geocapes.capes.gov.br/geocapesds/acessado
em 25 Junho 2013
2
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. CAPES. Coordenadoria de Coordenadoria de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Painel de Controle do Programa
Ciência Sem Fronteiras, 2013. Disponível em:http://www.cienciasemfronteiras.gov.br/web/csf/painel-de-controle acessado
em 25 junho 2013
3
MARAGNO, Gogliardo Vieira. Questões Sobre a Qualificação e o Ensino de
Arquitetura e Urbanismo no Brasil. In. Anais... XXXI Encontro Nacional sobre
Ensino de Arquitetura e Urbanismo. ABEA: São Paulo, 2012. Disponível em http://www.abea-arq.org.br/?p=382 acessado
em 25 Junho 2013.
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