domingo, 10 de março de 2013


Putz! Ficou deste tamanho? Pensou o projetista ao fazer a primeira visita na obra e perceber o tamanho real do edifício que foi concebido na pequena tela de seu notebook.



Ficou impressionado no primeiro contato e, certamente não fazia a menor ideia daquilo que o aguardava. Após alguns anos, o mesmo projetista volta ao local e percebe que os espaços que idealizou com tanto cuidado foram friamente deturpados por usuários inescrupulosos e, mesmo assim, eles estavam mais felizes do que havia imaginado e irritantemente adaptados às novas condições de vida. Ficou revoltado com tudo aquilo e num repente de ciúme adolescente quis cancelar o Registro de Responsabilidade Técnica do projeto e acabou abandonando a profissão pouco tempo depois por se sentir incompreendido.

O espanto e a surpresa fazem parte do cotidiano do arquiteto e nem sempre temos controle total sobre nossas ideias. O domínio da escala é uma das questões mais complicadas na vida de um projetista, desde os primeiros dias de estudo. Muitas vezes, não nos damos conta do tamanho da responsabilidade de construir e intervir na vida das pessoas diretamente. Quando digo “domínio da escala” não se trata apenas de dimensão espacial, mas de tudo que se relaciona com a dimensão do ser humano, inclusive, com recursos financeiros e ambientais. Intervimos diretamente nos vínculos afetivos ao propor alterações em espaços que testemunharam histórias de amor ou conflitos que não participamos. Difícil mensurar valor daquilo que desconhecemos.

Atuamos com muitas incertezas ao longo do processo de concepção espacial e sempre temos domínio parcial dos assuntos que iremos tratar. Por isso é fundamental recorrermos a bons profissionais. Flertamos com o erro diversas vezes e, portanto, somos invariavelmente surpreendidos pelo poder de nossas próprias decisões.

Quanto ao nosso pobre herói do início do texto, cometeu três erros básicos. O primeiro foi se apaixonar por uma ideia, se iludir quanto sua genialidade e pretender que a “ideia” seria intocada. O segundo, trabalhar em prol de sua própria vaidade, não contava com a possibilidade de mudanças naturais na vida das pessoas independentemente do que foi planejado. O terceiro, putz! Foi abandonar a carreira precocemente.

Érico Masiero, Janeiro 2013

3 comentários:

  1. Que maravilha de texto!!!

    Era oque eu precisava para fechar o dia com chave de ouro. Lendo o texto me senti dentro da sala de aula ouvindo sua voz... que saudades dessas aulas!!!

    Abraço!!!

    Gabriel França

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  2. Quando eu estava no banco da escola, se eu visse um texto como esse, eu pensaria: “Ah! Eu não vou me apaixonar pelas idéias”.

    Nos primeiros anos da vida profissional, se eu lesse algo parecido como isso, eu diria que: “Eu não estou me apaixonando pelas idéias”.

    Então, depois de muitos anos de profissão, agora, ao ler esta brilhante colocação, eu tenho toda a certeza: “Putz! Eu me apaixonava pelas idéias”.

    Quantos erros básicos!

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