Indignação e espanto
são as manifestações mais comuns entre estudantes de arquitetura ao saber do
tempo necessário para se estabelecer na profissão. Jovens universitários sonham
com um futuro promissor e uma carreira cheia de sucesso, mas não consideram as
dificuldades normais do percurso.
Uns, podem demorar
poucos anos para obter reconhecimento, o que é muito raro que aconteça em
qualquer das especialidades que escolher. A maioria deve demorar mais de cinco
anos após a formatura para se adaptar às exigências do mercado de trabalho e receber
gratificações financeiras e o respeito social que acreditam merecer. Nenhum
diploma de graduação é garantia de sucesso profissional, nem nunca foi, e
apesar do enorme apelo comercial das faculdades e dos meios de comunicação, só
os muito perseverantes pacientes e apaixonados pela atividade sobrevivem. O
investimento em qualquer profissão é sempre feito a fundo perdido, a dedicação
de tempo, dinheiro e o esforço raramente resultam em um aumento imediato na
remuneração. Nem por isso o investimento em formação deve ser preterido.
No caso de arquitetos
autônomos que trabalham essencialmente com clientes individuais e projetos de
habitações unifamiliares, o tempo de maturação do profissional é longo devido
ao tempo necessário para que todo o processo de consolidação de um espaço se
cumpra. Faça a seguinte pergunta para você mesmo: Se iniciarmos um projeto de
arquitetura hoje, qual o tempo necessário para que o edifício seja finalmente
ocupado pelos seus usuários?
O tempo talvez
seja o fator mais subestimado pelos jovens profissionais e para atingir um grau
de maturidade consistente é necessário passar por todas as fases de concepção e
consolidação de pelo menos alguns espaços até adquirir experiência suficiente.
Para estimar este tempo, procure somar o tempo necessário para
que o primeiro cliente seja conquistado, inclua o tempo de negociação dos
valores dos serviços que pretende prestar, estabeleça os prazos e as
demais cláusulas do contrato. Inicie com algumas conversas para definir as estratégias
básicas,
rabisque as primeiras ideias no estudo preliminar, passe pelos processos de
aprovação com o cliente e com os órgãos públicos. Quando estas etapas forem
vencidas e o projeto é oficialmente aprovado, teremos a sensação que o dever
foi cumprido, mas infelizmente não chegamos nem na metade do trabalho.
Inclua o tempo para a
elaboração dos desenhos executivos, para compatibilizar os
projetos complementares, orce a obra e administre-a, gerencie
os conflitos com sua equipe de projeto e de execução, com seus fornecedores, com
os vizinhos,
com os palpiteiros de plantão e principalmente, com a ansiedade do cliente até chegar
finalmente à apropriação dos usuários, se você sobreviver até lá.
Se
você somou o tempo para cada etapa, deve ter verificado que por mais simples
que seja o projeto, o processo não deve resultar em um tempo inferior a um ano,
isso sem considerarmos os reveses e a concorrência de outros profissionais
ávidos por um pedaço de bolo. Evidentemente, cada etapa citada
se trata de uma possível especialidade de atuação e cabe a você encarar o maior
número de situações e dificuldades para conhecer suas melhores características
e suas limitações pessoais.
Sinto lhe informar, se
você tem ânsia por sucesso profissional, terá que passar algumas vezes por
tudo isso até se habituar e detectar os pontos que deve melhorar e,
assim, corrigir as falhas nos trabalhos subsequentes. Poucos acertam 100% na
primeira obra.
Coragem, persistência e
paciência foram termos citados por vários colegas que conversei antes de
escrever este texto, e todos foram unânimes em relação à gratificação ao ver
uma obra realizada e bem utilizada. Aqueles que passaram por tudo isso garantem,
arquitetura pode não ser a profissão mais rentável, mas ao longo do tempo é altamente
compensadora do ponto de vista humano.
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