Certa vez, em uma conversa
informal com amigos, várias questões surgiram quanto ao que os arquitetos fazem
atualmente: A arquitetura produz o que as pessoas realmente precisam ou o que
ela imagina o que as pessoas necessitam e depois criam mecanismos para
convencê-las que aquilo é necessário? Produzimos em função dos anseios das
pessoas ou do que o sistema produtivo é capaz de oferecer? Produzimos discursos
filosóficos para justificar nossas propostas ou simplesmente não sabemos o que
queremos?
New York skyline - Extraído de http://toptravellists.net
O fato é que estamos projetando
mais “espaços gourmets” para pessoas que não sabem cozinhar do que cozinhas
para atender necessidades cotidianas. Projetamos “lounges” particulares
belíssimas e equipadas para pessoas que não tem tempo e ou não podem reunir os
amigos em casa para não quebrar a lei do silêncio estabelecida nos condomínios.
Já vi até em folhetos promocionais de venda de apartamento com um ambiente
batizado de “garage band”, como se tivesse alguma graça formar uma banda e não
incomodar os vizinhos. Duvido que algum movimento musical nos surpreenda a
partir de um ambiente que já nasceu para reprimir.
Tais situações demonstram que
estamos de fato a mercê do que o mercado pode viabilizar, de forma que, quem
anda determinando usos e funções dos espaços habitacionais são empreendedores,
advogados, engenheiros, marqueteiros, síndicos, e até porteiros, menos arquitetos
e usuários. Acho que nunca vi uma família linda, feliz e perfeita como aquelas
dos folders promocionais que as incorporadoras distribuem insistentemente nos
semáforos da cidade. No entanto, estamos projetando moradias para estas
famílias.
Os mecanismos de convencimento
são exatamente os mesmo criados pelas empresas de bens de consumo através de
campanhas de marketing para incentivar um público específico a consumir
determinados produtos, úteis ou não. No caso da arquitetura, não é muito
diferente. Os tais mecanismos de marketing podem estar travestidos de discursos
filosóficos, de normas técnicas, de questões ideológicas e, sobretudo, da
necessidade de se fazer algo, simplesmente para girar a roda da economia. É
importante para o sistema produtivo massificar desejos e construir cada vez
mais com menos recursos.
Há dois tipos de atitudes típicas
entre os arquitetos frente a estas questões:
Uns procuram seguir a risca os
mandamentos do cliente, atendem detalhadamente os programas de necessidades e
propõem quase nada além do que é solicitado. Outros determinam usos, funções e
novas formas de apropriação espacial de maneira autoritária e depois se
justificam com discursos filosóficos fajutos e quando alguém questiona a
necessidade de tal ousadia, argumentam que ninguém deseja o que não conhece e,
portanto, é necessário que um profissional capacitado e antenado com as novas
tendências apresente algo que desperte novos conceitos de vida, reais ou não.
Entre a passividade do primeiro e
a prepotência mercadológica do segundo, descarto ambos os modos de agir e fico
com o equilíbrio entre a ousadia e a sensibilidade.
Quanto às questões do primeiro
parágrafo, ainda não sei respondê-las completamente, no entanto acredito que
nunca teremos o controle do sistema produtivo do espaço tal como gostaríamos,
pois o espaço nasce da articulação entre diversos interesses e sempre há que se
fazer concessões para atingir propostas de organização espacial coerentes com a
realidade. O domínio do processo de criação que tanto reivindicamos está mais
ligado ao nosso talento em equilibrar as tensões entre os diversos grupos de
interesse e a negociação dos nossos próprios desejos.
Érico Masiero 30 Abril 2013
Colaboração – Maurício Gomes
Pois é, olha isso: http://www.youtube.com/watch?v=hC46uO-0mkY
ResponderExcluirAbraço, e parabéns pelo Blog!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir