domingo, 24 de março de 2013


Astúcia e ousadia não são características comuns de arquitetos quando o assunto é planejamento e organização da carreira. Embora esta dificuldade não seja exclusividade da profissão, suspeito que a diversidade de opções que a atividade propicia seja o maior problema. Assim, não pretendo aqui apresentar um manual de como proceder na carreira, pretendo somente relatar impressões pessoais e situações comuns que frequentemente podem ser observadas em colegas e estudantes acerca desta questão.
Poucas coisas são tão incômodas neste mundo como planejar uma carreira profissional. Para que o plano seja bom de verdade, é necessário considerar o maior número de incertezas e as possibilidades de algo sair errado. Desta forma, quando se fala em planejamento de carreira, o sonho da infância é o que permeia a maioria dos aspirantes a alguma profissão e, portanto, muitos preferem acreditar que algo inesperado e positivo aconteça na sua trajetória profissional que o alavanque para o sucesso. Nem sempre estes acontecimentos estão diretamente vinculados a ações intencionais e, podem inclusive serem obras do acaso. Uma aprovação em um concurso público ou em um processo seletivo de uma grande empresa, ou até a sorte de alguém endinheirado de seu círculo social se empolgar com seu talento e resolver investir em você. Esta última é uma possibilidade muito remota, dada à falta de endinheirados em nosso meio, principalmente, aqueles dispostos a investir em nós.


Então, como planejar algo entremeado de tantas variáveis quanto uma carreira profissional? Em meio ao turbilhão de informações, emoções e relacionamentos as quais estamos diariamente sujeitos dentro de um curso superior, nos questionamos diariamente se estamos de fato no caminho certo. Esta pergunta nos persegue mesmo após anos de atuação.
Assim, como qualquer projeto de arquitetura, o planejamento da carreira serve para minimizar as incertezas inerentes de um determinado processo e não excluí-las definitivamente. Até com o melhor e mais detalhado projeto, jamais devemos nos iludir que teremos controle absoluto de todas as variáveis envolvidas, mas certamente, é possível fazer previsões precisas e determinar como as ações se reverterão em benefícios.
A participação em cursos e eventos ligados a sua área de interesse podem até satisfazer momentaneamente, mas o que realmente o mantêm ativo e atualizado é a combinação entre sua pró atividade com sua rede de relacionamentos. Aprender a detectar necessidades é talvez o passo mais importante para se evoluir em uma profissão, principalmente quando se trata de assuntos relativos à sua identidade pessoal, quando algo de fato o toca sensivelmente. Desta forma, a energia produtiva pode ser direcionada para aquilo que estamos realmente dispostos, comprometidos e abertos a resolver.
O planejamento da carreira, contudo, está relacionado aos aspectos financeiro, familiar, social e cultural, de modo que em todas as áreas os objetivos devem ser traçados a priori e as ações devem ser tomadas nos períodos previstos inicialmente, mesmo que para isto seja necessário abdicar de algo. Abrir mão de alguns desejos na hora certa é sinal de maturidade e respeito com o destino. Repetir diariamente em frente ao espelho como um mantra, “Eu sou o máximo”,“Eu posso tudo”, “Yes, we can” como muitos manuais de auto ajuda recomendam, fará um bem danado para o ego, mas não vai ajudar efetivamente no seu crescimento. Como diz um grande amigo meu: “entre o fracasso e o sucesso existe apenas mais uma tentativa”.
Em parte, o incômodo deste assunto reside em nossa inabilidade para detectar gostos pessoais ou lidar com imprevistos. Nem sempre temos a noção exata de quanto tempo e recursos estamos dispostos a investir em um plano, de forma que nossas limitações físicas e emocionais, nossas ansiedades e desejos são muito difíceis de serem detectadas, uma vez que estão constantemente em mutação. Embora todos os percalços e mudanças acidentais de rumo sejam compreensíveis do ponto de vista pessoal, nosso maior empecilho é sem dúvida o medo da frustração, o qual é muito semelhante ao medo do papel em branco ao iniciar algum projeto. Este medo é persistente, apenas aprendemos a lidar com ele de forma mais amena com o passar do tempo. A sensibilidade de absorver, aceitar e se adaptar as mudanças naturais em relação às situações que não temos domínio, como as oscilações do mercado ou imprevistos pessoais, por exemplo, é louvável, mas aceitar que nossos próprios medos e angústias dominem nossos projetos é inadmissível.

Érico Masiero, 24 Março 2013


2 comentários:

  1. De certo modo acredito que uma Carreira Profissional ocorra como num jogo de xadrez.

    Em primeiro lugar, o jogador tem que ter um objetivo final – aplicar um checkmate – e em segundo lugar, ele tem que saber quais são as regras do jogo – para poder jogar.

    Quando um jogo começa, ninguém sabe quais serão os lances da partida e nem a posição final das peças. É impossível prever o futuro.

    Durante a partida, você descobre que precisa resolver alguns objetivos parciais, como proteger a sua rainha, pegar aquela torre, fugir do cavalo, sacrificar um bispo, etc. a fim de atingir o seu objetivo final.

    E o jogo vai acontecendo enquanto você vai analisando e refazendo as suas estratégias parciais.

    Em um determinado momento, ao olhar para o tabuleiro, observa-se um monte de peças pretas e brancas, todas misturadas, e neste ponto sempre conseguimos explicar o passado, redefinir a estratégia para atender o objetivo final e nunca conseguimos adivinhar o futuro.

    Na vida profissional é assim também.

    Em primeiro lugar o profissional tem que ter um objetivo final – ter o seu próprio escritório de arquitetura, por exemplo – e em segundo lugar tem que saber quais são as regras do mercado para poder se estabelecer e atuar.

    Um profissional, nuca sabe, exatamente, onde vai estar em 10 anos. É impossível prever o futuro.

    Mas, tendo um objetivo final em mente, percebe-se que é necessário resolver alguns objetivos parciais, como ser estagiário num escritório de arquitetura, não para “só trabalhar” (uma atitude passiva), mas sim para “aprender trabalhando” (numa atitude ativa). É necessário aprender como prospectar clientes, como fazer projetos, como executar vários projetos ao mesmo tempo, como apresentar um projeto, como escutar um não, como participar de uma licitação, etc. Para um escritório funcionar também é preciso cuidar do dia-a-dia, aprender sobre fluxo de caixa, entender a legislação tributária, como contratar e acompanhar serviços de terceiros, etc.

    Então para atender o objetivo final, talvez seja necessário, de acordo com a estratégia de cada um, aprender trabalhando, fazendo cursos, participando de seminários ou congresso e até mesmo trocando de atividades dentro de um mesmo escritório de arquitetura ou até mesmo trocando de emprego.

    O importante é nunca esquecer o objetivo final – o que alguns costumam chamar de Sonho. Ele vai ser a bússola e a força motriz para encarar os problemas.

    Sim os problemas! É importante aceitar desde cedo que durante a vida profissional sempre irão ocorrer problemas e perdas. Algumas mais ou menos “esperadas” e outras totalmente imprevistas. Assim como no jogo de xadrez, essas perdas fazem parte do jogo e por incrível que pareça, aprende-se mais nestes erros do que nos acertos. Ah! O bom gestor (da sua carreira) não é aquele que sabe prever os percalços do caminho (o que é impossível), mas sim aquele que consegue resolver o problema da melhor maneira possível – da maneira mais eficiente, mais rápida e com menor custo.

    Quando estamos no meio de uma Carreira Profissional é muito fácil entender o que deu certo e os motivos que levaram ao erro, é fácil construir histórias para explicar o passado. Enxergar os eventos por uma bola de cristal é fácil, mas, infelizmente, só depois que eles aconteceram.

    O segredo de uma boa gestão de Carreira é ter um objetivo, um sonho. Pois, como dizia um amigo, “para quem não sabe o que quer, qualquer coisa está boa”, ou seja, ficamos totalmente à mercê da sorte.

    Talvez o mais difícil no Planejamento de uma Carreira seja justamente descobrir o que se quer, o seu objetivo num futuro distante. O resto é fácil – é só trabalho, trabalho e trabalho.

    Por fim acredito que todos os profissionais irão ter uma carreira. Os que não sabem onde querem chegar vão ter uma atitude mais passiva e por isso vão construir uma carreira (com c minúsculo). Enquanto os que descobrem o seu sonho vão desenvolver uma atitude mais ativa perante o mercado de trabalho e de uma forma ou de outra vão obter uma Carreira (com C maiúsculo).

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  2. Maurício,
    Obrigado pela ótima contribuição.
    Não sou entusiasta de frases feitas, mas ontem ouvi uma muito boa do Prof. Volpato que se encaixa muito bem no assunto:
    "Ninguém planeja fracassar, mas fracassa por não planejar".

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