terça-feira, 16 de abril de 2013


Entre as maiores dificuldades enfrentadas pelos profissionais envolvidos na liderança de uma obra estão os boicotes promovidos pelos funcionários. As motivações para estes conflitos são diversas, ou seja, insatisfação com salários, condições sub humanas de alojamento, higiene e alimentação no canteiro, falta de segurança ou prazos impraticáveis. Enfim, tudo aquilo que está descrito nas normas técnicas brasileiras mas que dificilmente se pratica com seriedade em obras civis.

Diante desta infeliz constatação, os gerentes de obras nem sempre conseguem conquistar a confiança dos trabalhadores e desenvolver de forma adequada e segura algum serviço, o que desencadeia uma série de conflitos. Assim, é possível afirmar que o bom funcionamento da hierarquia de um sistema produtivo é proporcional ao respeito mútuo praticado entre os parceiros e colaboradores de uma determinada organização.


 Operários, Tarsila do Amaral, 1933

As típicas figuras do gerente de obra truculento e autoritário, da arquiteta tresloucada e escandalosa ou do coordenador de projeto jovem e inseguro que caem de paraquedas nesta situação, podem ser bem sucedidas dentro de um canteiro de obras desde que, de alguma forma, inclua no seu repertório a diplomacia e o respeito aos mais primários códigos de ética que regem as relações profissionais e humanas.

A fronteira da sanidade é frequentemente ultrapassada na ânsia de se cumprir as metas de um serviço e com isso, os limites físicos e emocionais dos trabalhadores podem ser muitas vezes considerados, pela alta gestão, como as fraquezas que impedem o sistema de alcançar a máxima produtividade e assim, vencer a concorrência.

Embora a construção civil seja um dos motores da economia do país e tenha a simpatia dos governos por possuir alta e rápida empregabilidade, é um dos setores que mais usurpa os direitos trabalhistas e um dos que mais desrespeita as normas de conduta social. Fraudes em obras públicas, desrespeito pela legislação urbanística, desprezo pelas normas de segurança e saúde são comuns neste setor. Assim, fica evidente o motivo pelo qual as maiores falcatruas da política nacional, as mais indignantes ações de corrupção e os maiores picaretas estejam relacionados à construção civil, pública ou privada.

Desta forma, não somos naturalmente bem visto por pessoas que se encontram em posições sociais consideradas inferiores, principalmente por trabalhadores braçais, que consciente ou inconscientemente externam as suas indignações com as injustiças. Representamos o sistema de poder, mesmo não concordando e não fazendo parte diretamente dele.

Quando se trata de obras civis a gente se acostuma a lidar com cifras muito elevadas e dimensões gigantescas, o que pode causar uma falsa sensação de poder excessivo sobre os objetos e as pessoas. Cem mil reais podem parecer uma quantia irrisória para a construção de uma residência hoje em dia, mas é, na maioria das vezes, o recurso conquistado a duras penas por uma família, por exemplo. Geralmente este valor é proveniente de empréstimos bancários a juros estratosféricos. Mas, fazer arquitetura não é só lidar com recursos financeiros e posicionar objetos, é, sobretudo, fazer algo com e para as pessoas.

Concordo que nossa classe profissional também não tenha as melhores condições em relação aos direitos trabalhistas no Brasil. Já ouvi a frase “o pedreiro não me respeita” inúmeras vezes de diferentes perfis de profissionais, nem sempre com o mesmo sujeito. A palavra pedreiro pode ser substituída por empreiteiro, engenheiro, carpinteiro e até cliente, de forma que as relações dentro de uma obra só refletem a agressividade pela qual o sistema se alimenta para que bem ou mal, funcione.

O respeito por nós reivindicado está proporcionalmente relacionado ao nosso comprometimento no combate às injustiças de nosso país, seja em qualquer âmbito de atuação.

Érico Masiero, colaboração Maurício Gomes, 16 Abril 2013

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