sábado, 10 de maio de 2014

O consultor de inovação no Vale do Silício, Victor Hwang, afirma que toda a veia criativa e artística do brasileiro tem sido mal aproveitada nos negócios, de tal forma que reflete o baixo índice de inovação praticado por aqui.  Ressalta inclusive, em uma recente entrevista à folha de São Paulo, que o medo de agir dos brasileiros é um dos principais entraves para o desenvolvimento da economia do país.
Mas por que arquitetos, apesar de receber uma formação generalista e lidar com processos de desenvolvimento de criatividade, costumam ser tão inábeis em relação aos negócios e pouco tem participado das grandes inovações atuais, tanto em termos tecnológicos, quanto artísticos e sociais?
A prosperidade nos negócios em geral está muito ligada ao grau de confiança das relações entre as pessoas e as instituições. No caso da atuação dos arquitetos, não é muito diferente. Interagimos com um grande número de pessoas, desde o cliente, passando por fornecedores de materiais e serviços, órgãos de análises e aprovações, empreiteiros, engenheiros até o usuário. É fundamental que interação e a sintonia entre estas pessoas estejam afiadas para que qualquer trabalho seja bem sucedido.  

Para que toda a cadeia produtiva funcione, uma boa dose de confiança é necessária entre os agentes, principalmente aquela que se refere aos prazos e a qualidade do serviço que todos se arvoram a prometer para fechar um bom contrato. Não é possível se fazer contrato de prestação de serviço com cláusulas intermináveis para requerer um simples serviço como o de uma manutenção do encanamento de sua casa. E digo mais, não é possível que nossa vida seja regida por contratos, alvarás, documentos, licenças, habilitações, carteirinhas e etc. A questão é que toda a burocracia brasileira só aumenta para coibir os espertalhões, e mesmo assim não ficamos livres deles.
Assim se forma um dos ambientes mais agressivos e difíceis do mundo para se fazer negócios, isso mesmo, o Brasil. Segundo o "Doing Business 2013” o país ocupa a 130ª posição entre 185 economias.   O estudo considera questões como a facilidade de funcionamento de uma empresa avaliando carga tributária, aspectos regulatórios e burocracia nos processos de abertura, instalações e operação de um negócio. Não tenho o hábito de denegrir meu próprio país, mas o que adianta criticarmos políticos, gestores públicos e empresários se não agimos de forma exemplar em nossos próprios negócios?  
Bem, sendo assim, detectar oportunidades de negócio e desenvolver produtos que satisfaçam necessidades de um determinado público exige criatividade, a mesma exigida para se desenvolver edifícios. Ou seja, arquitetos, designers, engenheiros e empresários recorrem com frequência a processos parecidos para desenvolver ideias. No entanto a falta de ação para colocar em prática a criatividade, a qual, modéstia parte não nos falta, faz com que ótimos projetos sejam engavetados. Não acredito que bons profissionais faltem em nosso país, mas compartilho da ideia que há carência de pessoas de ação. Aliás, a ação sempre precede a oportunidade, inclusive no dicionário.
Para finalizar, os melhores trabalhos que desenvolvi foram justamente aqueles que não exigiam qualquer contrato formalizado devido à mútua confiança entre os principais agentes. Mesmo que alguns contratinhos tenham sido preparados, poucos apertos de mão foram suficientes para que prazos e padrões de qualidade fossem respeitados. Enfim, confiança no seu taco, nas pessoas e nas instituições é fundamento de uma relação de trabalho saudável.
Veja a entrevista de Victor Hwang no site do Jornal Folha de São Paulo

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