A natureza da atividade do arquiteto,
assim como a de muitas outras profissões, se caracteriza pela liberdade de
atuação e pela possibilidade de lidar com uma enorme gama de assuntos sem estar
necessariamente comprometido com uma estrutura produtiva hierarquizada como as
de empresas ou instituições em geral. Quando se escolhe atuar nestas condições,
é preciso estar ciente que as responsabilidades perante a sociedade e sobre
suas conquistas se tornam exclusivamente individuais. Este é o preço da
liberdade dos profissionais categorizados como liberais.
Embora a ideia de liberdade de
pensamento seja sedutora para os ingressantes nesta atividade, nem todos optam
arcar com o ônus de viver livremente, ou longe de empregos formalizados em
alguma organização produtiva. Entretanto, é absolutamente imprescindível assimilar
que as diversas possibilidades de atuação estão ligadas a sua permanente
atenção às alterações das oportunidades de trabalho sob quaisquer condições.
Percebe-se que formação profissional do
arquiteto está, de fato, cada vez mais generalista. Inclusive, muitos
arquitetos defendem a ideia que o profissional deve ser capaz de atender
demandas das mais diversificadas possíveis. Relatam, sobretudo, que a
possibilidade de atuação em áreas tão distintas, faz da profissão uma das mais
instigantes e ricas em experiências humanas. No entanto, a tendência para uma
abordagem generalista de um determinado problema espacial, acaba por incentivar
projetos, muitas vezes, superficiais e levianos, sendo que os quais nem sempre
levam em consideração detalhes cruciais para seu êxito. A excessiva
liberdade para escolher questões a serem privilegiadas nos projetos
arquitetônicos é uma prática comum nas escolas de arquitetura
e raramente as decisões de intervenções espaciais se associam às
necessidades reais.
Ou seja, em nome da liberdade criativa
de um projeto, se menosprezam normas técnicas, se desprezam custos, minimizam
fatores humanos e se sacrifica a qualidade espacial. De modo que muitas vezes,
a falta de aprofundamento na concepção dos projetos é confundida com abordagem
generalista.
Abordar as questões genericamente, por
um lado pode ser saudável, muito embora nem sempre se atinja o grau de
conhecimento necessário para se solucionar um problema arquitetônico. Tratar as
questões profissionais de maneira generalista não quer dizer tratá-las
superficialmente. Assim, se faz cada vez mais necessário admitir as próprias
limitações e recorrer a especialistas, e quem sabe, se tornar um deles.
O fato é que poucos profissionais
conhecem profundamente e tiram proveito das atribuições da profissão previstas
em lei, de forma que apenas algumas delas são valorizadas e altamente
concorridas. Consequentemente, muitos preferem se lamentar em relação à
concorrência com os próprios colegas ou com os engenheiros. Para estes, recomendo
que deem uma boa olhada na enorme gama de atribuições de um arquiteto na lei
12.378 de 2010.
A liberdade a que me refiro no início
do texto está intimamente relacionada ao conhecimento dos fatores que motivam
sua atuação.
Érico
Masiero, 06 Abril 2013
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