domingo, 10 de março de 2013


A manchete da edição da Folha de São Paulo de 05/01/2013 nos diz um pouco mais sobre a situação da educação em nosso estado: “O estudante da nona série do ensino fundamental (alunos com 14 anos) possui conhecimento equivalente ao que se espera para um da quinta série (de 10 anos)”. Pelo terceiro ano consecutivo, o nível de conhecimento dos alunos em matemática tem diminuído embora o acesso a informações tenha aumentado espantosamente nos últimos anos.


Os avanços da informática e as facilidades criadas são inegáveis, no entanto, esta notícia nos faz refletir se o acesso à informação necessariamente produz conhecimento e contribui efetivamente para os processos de educação. Será que uma das razões para a falência do nosso sistema educacional está em menosprezar os avanços da tecnologia e dos acontecimentos do nosso mundo? Será mesmo que a educação está afastada da realidade?

A diferença básica entre informação e conhecimento é que o segundo carrega uma componente crítica, ou seja, a informação precisa ser discutida e principalmente vivenciada para que se torne conhecimento. É neste processo que a informática em nada pode contribuir, pois o acúmulo de experiência e a formação crítica se tratam de atos exclusivamente humano.

A confusão entre o conceito de informação e conhecimento é a mesma entre desenho e projeto. Desenho é a informação metodicamente organizada, sem crítica. Projeto é desenho com conhecimento.

A poderosa ferramenta BIM não é simplesmente um sistema de elaboração de desenhos, e sim, uma plataforma de organização de informações referentes a um projeto, aos seus custos, aos materiais e serviços a serem empregados em uma obra. No entanto, nenhum sistema substitui a experiência humana. Nenhum sistema cria atalhos para o aprendizado, pois o conhecimento se desenvolve na aplicação de nossa experiência técnica e no relacionamento humano diário. Nenhum sistema propõe a melhor solução de projeto para um edifício, por exemplo, só contribuí para prever problemas decorrentes de nossas próprias ações.

Informação é sempre bom, organizada, melhor ainda, mas sem discernimento, não ajuda muito. Não estamos sabendo lidar com o excesso de informação, queremos livros cada vez mais finos, computadores e calculadoras cada vez mais velozes, mas não queremos aprender português e matemática. Não queremos porque são matérias difíceis. 

Almejamos nos tornar médicos operando em bonecos, engenheiros e arquitetos em ambientes virtuais, sem passar pelos doloridos processos de operar ou construir para seres humanos. 

Érico Masiero, 7 Janeiro 2013

2 comentários:

  1. Realmente, os governos estaduais “deram ré no quibe” quando inventaram essa porcaria chamada “Aprovação Automática nas Escolas Públicas”. Transformaram o ciclo básico numa creche aonde as crianças vão se alimentar e brincar.

    Ao invés dos governos nivelarem a educação “por cima”, eles escolheram nivelar “por baixo” alegando que não poderiam desestimular as crianças com as reprovações!

    Ótimo! Assim os legisladores estão garantindo que os filhos deles terão menos concorrência com a grande massa proletária. Uma forma “inteligente” de manter cada um dentro das suas “castas”.

    Os governos tinham a meta de manter as crianças na escola e conseguiram. Mas estão fazendo apenas isso. Ou seja, eles estão criando analfabetos funcionais bem alimentados. Ótimo para os canteiros de obras do PAC.

    Acho que tenho o mesmo ponto de vista do Érico sobre dois aspectos do avanço da informática: (1) Os avanços da informática trazem benefícios inegáveis; e que (2) O ato de disponibilizar a informação, por si só, não gera conhecimento.

    Apesar de não conhecer a ferramenta BIM (não sou arquiteto), imagino que a sua crítica tem uma grande semelhança com as minhas observações na indústria de bens duráveis. Os projetos realizados pelos projetistas “de cabelos branco”, que aprenderam a projetar na prancheta, geralmente são melhores (mais criativos e mais precisos) do que aqueles realizados pelos projetistas que aprenderam a desenhar no AutoCad 3D.

    A minha crítica não é para os que projetam usando o computador. Não estou defendendo voltarmos para a prancheta. Não é isso.

    O que estou dizendo é que, quando se fazia o desenho “na unha”, o projetista tinha que fazer dezenas de cortes e vistas para poder detalhar o seu projeto. O desenhista tinha o projeto em 3D dentro da sua cabeça e ele tinha que “suar” muito para explicar em 2D todos os detalhes da forma tridimensional. Isso desenvolvia o raciocínio “espacial” e gerava habilidades de enxergar além do desenho, pois tínhamos que ler todas as vistas e imaginar a peça pronta.

    Hoje, ao contrário, delegamos a tarefa de pensar para a máquina. Não precisamos imaginar a peça em 3D, a máquina faz isso por nós. Com conseqüência perdemos a capacidade de imaginar uma peça só olhando as suas várias vistas. Estamos “perdendo capacidade”, ao delegar a tarefa “árdua” para a máquina.

    Como conseqüência prática eu vi vários projetos errados, pelo simples fato dos projetistas “modernos” se encantarem com o desenho em 3D e se esquecerem de detalhes funcionais que eram sempre descobertos na hora da fabricação. Aí o comentário do funcionário da linha de montagem era sempre o mesmo: “Projetista burro! Ele não sabe que um pino de 10 mm não entra num furo de 8 mm”... Básico, mas acontece... O computador não pensa. Ele faz o que o projetista manda.

    Acho que concordamos que o nosso sistema educacional deveria primeiro nos ensinar a pensar e só depois nos facilitar a vida com essa maravilhosa máquina chamada computador.

    Sou contra o [ctrl C], [ctrl V] dos trabalhos de escola. Ao fazermos isso estamos apenas repassando a informação e só...

    Ah! Indo um pouquinho mais além, sempre olho com desconfiança as informações que estão na Internet. Pois, geralmente são informações para leigos e não para profissionais.

    Eu sou leigo em Medicina, leigo em Leis, leigo em Arquitetura, leigo em Literatura, leigo em História, etc. Ou seja, nestes casos o que o “São Google” encontra, pode estar bom para mim.

    Por outro lado, todas as vezes que eu tentei encontrar alguma informação detalhada na área de Engenharia, ou não a encontrei ou tive que pagar para ter acesso. Contudo, não encontrar a informação era muito melhor do que encontrar uma informação errada, imprecisa, tosca e que até ofendia a minha dignidade profissional.

    É impressionante como tem informações imprecisas na Internet. Mas estas imprecisões só são percebidas pelas pessoas que dominam aquele dado assunto.

    “Pensar é o trabalho mais difícil que existe. Talvez por isso tão poucos se dediquem a ele.” Henry Ford

    Pense nisso!

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  2. Maurício
    Sua experiência em indústrias de bens duráveis mostra que enfrentamos problemas parecidos na produção de edifícios e cidades. Acredito que o interesse e o envolvimento de profissionais e usuários nos processos de concepção são fundamentais para esclarecer nossas necessidades. Aliás, pretendo escrever um texto sobre este assunto, espero contar com sua colaboração. Abraço!

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