Estudantes,
profissionais e até professores de arquitetura expressam frequentemente
sentimentos de lamento e orgulho ao mesmo tempo quando entregam uma tarefa de
última hora após árduas madrugadas em claro. É como se toda energia produtiva precisasse
se concentrar em apenas algumas horas do dia.
Posso
dizer com muito orgulho justamente o contrário. Nunca perdi uma madrugada em
cima de algum trabalho. Costumava passar
longas madrugadas em claro me divertindo com meus amigos ou com minha namorada.
Mais recentemente, com meu filho, devido a alguma enfermidade ou após pesadelos
aterrorizantes, comuns na idade dele.
Certa vez
uma arquiteta, funcionária de uma grande incorporadora me confessou que achava
um absurdo um profissional fazer uma hora de almoço durante o dia. Concordei
prontamente, mas só fui me dar conta do absurdo quando eu disse que se tratava
de pouco tempo e ela achava tempo demais. Ela até se orgulhava de me enviar
mensagens de trabalho às três da manhã, ser considerada workaholic pelos
colegas e de atingir metas desumanas impostas pelo patrão. Ela só não sabia que
sofria de assédio moral, prática, aliás, muito comum nos escritórios de
arquitetura. Raramente são denunciadas.
Até já
ouvi dizer, inclusive de professores de arquitetura que, o uso de álcool ou drogas
pode potencializar seu lado criativo e aumentar sua produtividade. O ato de
projetar é uma tarefa essencialmente intelectual que exige muita atenção e
total concentração, portanto, qualquer coisa que atrapalhe o processo de
desenvolvimento como, sono, fome, sede, excitação excessiva ou desequilíbrio
emocional deve ser combatido. Qualquer coisa que altere seu estado psíquico
natural pode resultar em trabalhos imprecisos e pouco sinceros.
Quando
precisamos recorrer a tempo extra para finalizar algum trabalho é sinal que algo
foi mal planejado ou não nos preparamos devidamente para desempenhar tal
tarefa. Trabalho não é imprevisto e tempo livre para o descanso é direito de
qualquer trabalhador. Mas isto depende de nossa atitude perante as forças do
mercado.
A questão
das madrugadas em claro é permeada pela nossa própria dificuldade de encarar o
trabalho de maneira saudável. Direitos trabalhistas como, férias, fundo de
garantia, plano de saúde, décimo terceiro, estão ainda distantes de muitas
empresas de arquitetura. Muitos escritórios declaram os funcionários como
“associados”, no entanto não repartem os lucros nem a autoria dos trabalhos
desenvolvidos. Esta precariedade do mercado de trabalho ocorre pelo fato de não
darmos a devida importância na formação do arquiteto à disciplina, à
organização, a legislação e ao planejamento, apesar destes itens fazerem parte
da grade curricular.
O descompasso
entre as exigências profissionais e os direitos reside essencialmente na nossa
falta comprometimento com qualidade de vida que tanto apregoamos.
Érico Masiero, Fevereiro 2013
Érico Masiero, Fevereiro 2013
Será que os arquitetos, de tão desunidos, que chegam a discutir sem base e, assim, sem levar a termo, a questão - que já virou querela - da "Reserva Técnica", conseguirão sequer discutir seriamente esta questão?
ResponderExcluirE se empurrarem isso para o CAU, vai adiantar alguma coisa?
Novamente, cada um por si?
Ética - como sempre, uma das palavras mais repetidas e menos praticadas!
AC