Putz! Ficou deste tamanho? Pensou o projetista ao fazer a
primeira visita na obra e perceber o tamanho real do edifício que foi concebido
na pequena tela de seu notebook.
Ficou impressionado no primeiro contato e,
certamente não fazia a menor ideia daquilo que o aguardava. Após alguns anos, o
mesmo projetista volta ao local e percebe que os espaços que idealizou com
tanto cuidado foram friamente deturpados por usuários inescrupulosos e, mesmo
assim, eles estavam mais felizes do que havia imaginado e irritantemente
adaptados às novas condições de vida. Ficou revoltado com tudo aquilo e num
repente de ciúme adolescente quis cancelar o Registro de Responsabilidade
Técnica do projeto e acabou abandonando a profissão pouco tempo depois por se
sentir incompreendido.
O espanto
e a surpresa fazem parte do cotidiano do arquiteto e nem sempre temos controle
total sobre nossas ideias. O domínio da escala é uma das questões mais
complicadas na vida de um projetista, desde os primeiros dias de estudo. Muitas
vezes, não nos damos conta do tamanho da responsabilidade de construir e
intervir na vida das pessoas diretamente. Quando digo “domínio da escala” não
se trata apenas de dimensão espacial, mas de tudo que se relaciona com a
dimensão do ser humano, inclusive, com recursos financeiros e ambientais. Intervimos
diretamente nos vínculos afetivos ao propor alterações em espaços que
testemunharam histórias de amor ou conflitos que não participamos. Difícil
mensurar valor daquilo que desconhecemos.
Atuamos com muitas
incertezas ao longo do processo de concepção espacial e sempre temos domínio
parcial dos assuntos que iremos tratar. Por isso é fundamental recorrermos a
bons profissionais. Flertamos com o erro diversas vezes e, portanto, somos invariavelmente
surpreendidos pelo poder de nossas próprias decisões.
Quanto
ao nosso pobre herói do início do texto, cometeu três erros básicos. O primeiro
foi se apaixonar por uma ideia, se iludir quanto sua genialidade e pretender
que a “ideia” seria intocada. O segundo, trabalhar em prol de sua própria
vaidade, não contava com a possibilidade de mudanças naturais na vida das
pessoas independentemente do que foi planejado. O terceiro, putz! Foi abandonar
a carreira precocemente.
Érico Masiero, Janeiro 2013
Que maravilha de texto!!!
ResponderExcluirEra oque eu precisava para fechar o dia com chave de ouro. Lendo o texto me senti dentro da sala de aula ouvindo sua voz... que saudades dessas aulas!!!
Abraço!!!
Gabriel França
Obrigado, Gabriel!
ResponderExcluirAbraço
Quando eu estava no banco da escola, se eu visse um texto como esse, eu pensaria: “Ah! Eu não vou me apaixonar pelas idéias”.
ResponderExcluirNos primeiros anos da vida profissional, se eu lesse algo parecido como isso, eu diria que: “Eu não estou me apaixonando pelas idéias”.
Então, depois de muitos anos de profissão, agora, ao ler esta brilhante colocação, eu tenho toda a certeza: “Putz! Eu me apaixonava pelas idéias”.
Quantos erros básicos!