domingo, 10 de março de 2013

O mais recente lançamento imobiliário de uma cidade do interior do Estado de São Paulo  utiliza de maneira muito sagaz o seguinte Slogan:
“Privilégio é ter segurança e conforto para toda a família”
“Privilégio é ter lazer completo e sustentável”
“Viva este privilégio”

Antes de iniciar este texto gostaria de ressaltar todo o meu respeito e admiração pelos empreendedores responsáveis por este projeto e pelos publicitários que tão sensivelmente captaram desejos coletivos. Gostaria apenas de pedir a permissão de utilizar este exemplo de empreendimento para fazer algumas reflexões a respeito da força de nossos desejos e os caminhos do desenvolvimento urbano.  Não pretendo de forma alguma julgar as intenções dos profissionais envolvidos e considero que estão no direito democrático de acumular riquezas dentro da legalidade.

Dito isto, gostaria de fazer algumas considerações sobre direito e privilégio. Ou seja, entre as diversas definições dos dicionários, privilégio é apresentado como vantagens ou imunidades especiais gozadas por uma ou mais pessoas, além dos direitos comuns dos outros. E, “direito”, é definido como aquilo que é justo. Em alguns dicionários, os dois termos são até tratados como sinônimos.

As qualidades vendidas pelo empreendimento em questão são inegáveis de forma que a aquisição de um imóvel neste empreendimento se torna objeto do desejo com muita facilidade. É certamente muito gratificante quando conquistamos estes privilégios, como segurança, lazer e sustentabilidade.  Adoramos os privilégios! Adoramos quando temos o privilégio de ter o prefeito de sua cidade ou a Dilma entre os nossos contatos no Facebook, ou quando somos tratados simplesmente com dignidade. Adoramos educar nossos filhos em escolas particulares, adoramos o privilégio de ser atendido no hospital particular devido ao nosso plano de saúde diferenciado, ou, por que não, adoramos ter um segurança e um motorista particular a nossa disposição.

Mas aí eu lhe pergunto: Segurança, lazer, saúde, educação, transporte e acesso aos nossos governantes não deveriam estar entre os nossos direitos? Por que batalhamos tanto para conquistar privilégios e somos apáticos quando precisamos obter direitos?

Em tempos de extrema violência, desmoralização total das instituições públicas de segurança e descrença com as políticas públicas, empreendedores assumem funções que o estado tem sido incapaz de oferecer. Compramos como privilégios individuais aquilo que já deveríamos ter conquistado como direito coletivo e ainda nos orgulhamos de ter segurança, conforto, lazer e sustentabilidade particular.

Érico Masiero, Novembro 2012

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