O mais recente lançamento imobiliário de uma cidade do interior do Estado de São Paulo utiliza
de maneira muito sagaz o seguinte Slogan:
“Privilégio é ter segurança e conforto para toda a
família”
“Privilégio é ter lazer completo e sustentável”
“Viva este privilégio”
Antes de iniciar este texto gostaria de ressaltar todo o meu respeito e admiração pelos empreendedores responsáveis por este
projeto e pelos publicitários que tão sensivelmente captaram desejos coletivos.
Gostaria apenas de pedir a permissão de utilizar este exemplo de empreendimento
para fazer algumas reflexões a respeito da força de nossos desejos e os
caminhos do desenvolvimento urbano. Não pretendo de forma alguma julgar
as intenções dos profissionais envolvidos e considero que estão no direito
democrático de acumular riquezas dentro da legalidade.
Dito isto, gostaria de fazer algumas considerações sobre
direito e privilégio. Ou seja, entre as diversas definições dos dicionários,
privilégio é apresentado como vantagens ou imunidades especiais gozadas por uma
ou mais pessoas, além dos direitos comuns dos outros. E, “direito”, é definido
como aquilo que é justo. Em alguns dicionários, os dois termos são até tratados
como sinônimos.
As qualidades vendidas
pelo empreendimento em questão são inegáveis de forma que a aquisição de um
imóvel neste empreendimento se torna objeto do desejo com muita facilidade. É
certamente muito gratificante quando conquistamos estes privilégios, como
segurança, lazer e sustentabilidade. Adoramos os privilégios! Adoramos
quando temos o privilégio de ter o prefeito de sua cidade ou a Dilma entre os
nossos contatos no Facebook, ou quando somos tratados simplesmente com
dignidade. Adoramos educar nossos filhos em escolas particulares, adoramos o
privilégio de ser atendido no hospital particular devido ao nosso plano de
saúde diferenciado, ou, por que não, adoramos ter um segurança e um motorista
particular a nossa disposição.
Mas aí eu lhe pergunto:
Segurança, lazer, saúde, educação, transporte e acesso aos nossos governantes
não deveriam estar entre os nossos direitos? Por que batalhamos tanto para
conquistar privilégios e somos apáticos quando precisamos obter direitos?
Em tempos de extrema
violência, desmoralização total das instituições públicas de segurança e
descrença com as políticas públicas, empreendedores assumem funções que o
estado tem sido incapaz de oferecer. Compramos como privilégios individuais
aquilo que já deveríamos ter conquistado como direito coletivo e ainda nos
orgulhamos de ter segurança, conforto, lazer e sustentabilidade particular.
Érico Masiero, Novembro 2012
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